Verdade


Se apenas houvesse uma única verdade, não poderiam pintar-se cem telas sobre o mesmo tema.

Picasso

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

 
" As palavras fogem quando precisamos delas e sobram quando nao pretendemos usá-las." 
Carlos Drummond de Andrade

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

"O mais corajoso dos atos ainda é pensar com a própria cabeça."

Coco Chanel

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

“A criatividade baseia-se na incerteza: o criativo erra muitas vezes, mas, quando acerta, revoluciona”.

Domenico de Masi

sábado, 21 de janeiro de 2012

“As coisas alteram-se espontaneamente para pior se não forem deliberadamente alteradas para melhor”.

Francis Bacon

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

De bem com a vida

 
Revista Vida Simples nº 112 01/12/2011 - Por Eugênio Mussak



“Cuidado, a vida é pra valer. E não se engane não, tem uma só. Duas mesmo que é bom, ninguém vai me dizer que tem sem provar muito bem provado, com certidão passada em cartório do céu, e assinada embaixo: Deus! e com firma reconhecida”.

A frase acima só podia ser de um poeta transgressor como Vinícius de Moraes. É uma das partes faladas do Samba da Benção que ele compôs e Baden Powell musicou. Enaltecendo a beleza do samba e a aventura do amor, ele fala mesmo, em seus versos, da arte de viver. Pede benção aos amigos e diz que já viajou muitas canções, mas que ainda há muitas para viajar.

Os versos de nosso “poetinha” resumem como poucos a dupla função da poesia composta por beleza e verdade: agrada os sentidos e faz pensar. “Cuidado, a vida é pra valer”, não é algo a ser desperdiçado, até porque “Não se engane não, tem uma só”. Por isso temos que estar de bem com ela.

Estar de bem com a vida. Este é um tema que ultrapassa o terreno estéril das frases de efeito e chega ao território fecundo da filosofia. “Creio que aqueles que mais entendem de felicidade são as borboletas e as bolhas de sabão”, disse Nietzsche, para depois admitir que invejava a leveza desses seres. “Ver girar essas pequenas almas leves, loucas, graciosas e que se movem é o que, de mim, arrancam lágrimas e canções”, completou. Pois até o mal humorado filosofo alemão admitiu que há virtude em se buscar a paz com o viver.   
E o que é estar de bem com a vida senão a capacidade de manter um estado de alegria a despeito das vicissitudes da própria? É claro que a vida é dura, injusta e muitas vezes cruel. Todos sofremos com a perdas e com as angústias próprias do viver, mas não é disso que estamos falando. As condições externas influem, sim, mas o tema aqui é o estado da alma.    

Não me agrada o discurso fácil da auto ajuda que insiste que você tem a obrigação de ser feliz. Não, felicidade não é uma obrigação nem uma competência. Não é uma alienação. Felicidade nem sequer é um estado definitivo, e, com certeza não é um lugar onde se pode chegar. Por outro lado, não me agrada também a condição das “vítimas do sistema”, que se orgulham de sua amargura e a exibem como um troféu conquistado.

Conheço pessoas que souberam lidar bem com as dificuldades naturais de suas existências e conheço outras que se transformaram em vítimas tristes nas mesmas condições. É claro que há situações de extrema dificuldade, e negar a tristeza que vem junto é negar a própria condição humana. Mas esta não é a questão. Não me refiro às tragédias, e sim às dificuldades corriqueiras, que impregnam nosso cotidiano como o musgo na face sul do tronco das árvores, e que podem, com o tempo, apagar o brilho de viver. A menos que não se deixe que isso aconteça.

Encontrei pessoas de bem com a vida nas grandes cidades, trabalhando em imensas corporações. Encontrei também em pequenas vilas do interior ou do litoral. Em lugares pobres e em lugares ricos. Em tempos de tranquilidade e em tempos de crise. Ou seja, em todos os lugares. E também encontrei pessoas de mal com a vida. Onde? Exatamente nos mesmos lugares.

Este talvez seja um dos grandes mistérios da psicologia humana. O que faz a diferença entre esses dois tipos de indivíduos? Será sua genética ou terá sido sua educação?       

Lembro de meus colegas de colégio. (...) Havia ali os futuros engenheiros, advogados, empresários, e até um diplomata.  E havia Fabinho. Ele não tinha planos grandiosos, não queria ficar rico nem famoso. Quando alguém lhe perguntava o que queria ser na vida ele respondia com um sorriso: “Eu quero ser feliz”. E eu via sinceridade em sua afirmação. (...)

Fabinho não era rico, nem bonito, nem atleta talentoso. Ele era como a maioria, com virtudes e fragilidades. Era como eu, só que ele tinha algo que lhe era singular. Ele parecia estar de bem com a vida.
Encontrei, como já disse muitos Fabinhos pela vida afora, como também encontrei seus opostos, os amargurados crônicos. Qual o segredo? Não sei, mas, pra começo de conversa, estou certo de que não existe uma fórmula para ser feliz, e se existir, ainda que seja apenas uma pista, com certeza ela é pessoal e intransferível, pois felicidade é um conceito concebido individualmente.
Entretanto pessoas de bem com a vida têm, sim, algo a nos ensinar. A primeira lição é que elas não caem na armadilha fácil da felicidade imediata, aquela que é confundida com o prazer descartável, nem transformam a felicidade em um eterno projeto futuro. Gente de bem com a vida percebe que felicidade é um estado interior que não precisa ser prejudicado pelo que acontece fora de nós, e também se dá conta que, se a única coisa que existe de fato é o presente, o futuro vai virar presente e, quando isso acontecer, ele será tão melhor ou tão pior dependendo das providências que tomarmos no presente atual.
(...)

Mas, espere um pouco, tem mais. É necessário equipar-se com alguns artigos de primeira necessidade para alimentar a felicidade, nada muito complicado, acredite. Algumas coisas são óbvias, mas invisíveis como o ar, que só é percebido quando falta. A saúde, por exemplo. Então é melhor cuidar da dita cuja, pois não dá pra ser feliz e doente ao mesmo tempo, e não importa a fase da vida. O mesmo se dá com a grana, a bufunfa, o tal do dinheiro. Estou inclinado em acreditar nisso até certo ponto, pois se o dinheiro não te faz feliz, a falta dele, provavelmente, vai te tirar o sono e prejudicar sensivelmente a felicidade interna bruta.
Resolvidos os requisitos básicos, que atrapalham a busca da felicidade se estiverem ausentes, é hora de cuidar dos ingredientes da verdadeira felicidade, aquela que dá gosto de sentir. E eles são pelo menos três: o que fazemos para viver, como gastamos nosso tempo livre e, talvez o mais importante, com quem compartilhamos tudo isso.

O que fazemos para viver, evidentemente, é nosso trabalho. Ele nos dá o sustento e a dignidade, mas pode nos dar mais, pode dar o verdadeiro sentido da vida. Todos os trabalhos são dignos, mas temos que ouvir nossa vocação e perceber o significado daquilo que fazemos. Assim teremos, não só um trabalho, mas uma carreira; e não realizaremos apenas tarefas, mas causas. Não acho que alguém, para quem o trabalho seja um peso, possa ser feliz de fato. Você se contentaria em ser feliz só depois do expediente e, ainda por cima, odiar a vinheta do Fantástico, que é o prenúncio da segunda feira?

Cuidar do tempo livre é ter disposição para se divertir. O prazer, a alegria, a diversão são tão importantes quanto seu trabalho ou o estudo. É desse equilíbrio que sai o caldo de cultura que vai alimentar a felicidade. E curtir a vida tem mais uma vantagem: quando você ficar velho terá boas lembranças como lenitivo para a vida mais recolhida.

Por último, mas muito longe de ser menos importante, as relações humanas. Geneticamente não estamos preparados para a solidão, que só é boa quando é por opção, e, ainda assim, por pouco tempo. Ter amigos, curtir a família, cultivar boas relações com seus colegas de trabalhos e vizinhos do condomínio. As boas relações nos fazem felizes sim, alimentam nosso espírito gregário, nos fazem perceber que somos queridos, geram autoestima.

Entretanto, é bom que se diga, há uma relação humana especial, que tem um imenso poder de agregar felicidade, que transforma silêncio em música, folha em flor, distância em saudades, toque em sedução, sorriso em esperança. Estou falando da pessoa especial que está a seu lado, seu companheiro, sua companheira de jornada. Estou falando do amor verdadeiro, que existe, sim, e é bom, muito bom.

Não conheço os detalhes da vida do Fabinho, mas quem me fala sobre ele relata que ele tem andado por aí com aquela cara que só os apaixonados têm, um misto de paz e entusiasmo, a combinação pra lá de perfeita. No fundo, no fundo, não é difícil ser feliz, mas dá um certo trabalhinho cuidar desses detalhes. E o fator acaso? Existe, afinal? Claro que existe, mas seu potencial para gerar felicidade é diretamente proporcional à atenção e inversamente proporcional ao descaso.

Já se disse que o acaso tem sempre a última palavra. Mas podemos rever esse conceito, afinal, a última palavra pode estar com cada um de nós, e é dita por aquilo que fazemos com o que o acaso fez conosco

domingo, 1 de janeiro de 2012

A arte de ser leve


Por Leila Ferreira

Costumo dizer que, depois de passar alguns anos correndo atrás da felicidade, hoje prefiro andar sem pressa em busca da leveza. Não a leveza que nos aliena ou nos condena à superfície, mas aquela que nos inspira a manter uma espécie de elegância existencial mesmo diante das adversidades – e adversidade é coisa que nunca falta pelos caminhos. Todos nós temos problemas, todos nós convivemos com frustrações e perdas. Mas nenhuma carga de insatisfação pessoal justifica nos transformarmos em seres de espírito obeso, criaturas permanentemente estressadas e insatisfeitas que parecem carregar nas costas (e na alma) o peso do universo. Não há nada mais penoso do que conviver com pessoas desagradáveis. E a recíproca, claro, é verdadeira: poder compartilhar um espaço, uma atividade ou uma vida com alguém leve é um dos grandes prazeres da existência.

Quando penso nessa leveza que acrescenta qualidade ao cotidiano, penso, antes de mais nada, em bom humor e gentileza. Pessoas indelicadas, incapazes de dizer “obrigado” ou “por favor”, aquele colega da empresa que nunca dá um “bom dia”: quem é que gosta de dividir seu cotidiano com pessoas assim? E aquele médico que não dá um sorriso sequer, o marido que não abre a cara por nada deste mundo, a amiga que reclama de tudo e de todos, a colega de trabalho que parece estar brigada com todos e com tudo: alguém merece conviver com criaturas assim?

Quando se abre mão da gentileza, a qualidade de vida cai drasticamente. Não há como manter bons  relacionamentos  quando se é descortês ou grosseiro. E, quando nossos relacionamentos deixam a desejar, nossa qualidade de vida é expressivamente reduzida. Com o humor, ocorre o mesmo. Pessoas bem humoradas ou com senso de humor convivem melhor com o mundo e com elas mesmas. Não criam dramas desnecessários e, com isso, reduzem o impacto das circunstâncias desfavoráveis que inevitavelmente fazem parte do nosso dia a dia.

Antigamente, valorizava-se muito a simpatia. Hoje, no mundo das aparências  e do consumismo, valem o corpo malhado, o carro do ano, o rosto sem rugas, a roupa de grife. Aos poucos, vamos nos esquecendo de sermos
agradáveis – é como se a simpatia fosse uma virtude bobinha do passado. Apressados, estressados,
esgotados pelo esforço permanente do “ter que fazer”, “ter que correr”, “ter que se dar bem” e “ter que competir”, vamos aumentando, sem perceber, o peso que carregamos na alma. É como se a cada dia acrescentássemos
alguns quilos à nossa bagagem e o percurso vai ficando cada vez mais arrastado e mais difícil.

Para quem não teve a sorte de nascer leve, leveza é algo que se aprende, garante um casal de psicólogos portugueses que entrevistei para o meu livro sobre esse tema. Helena Marujo e Luís Miguel Neto dão treinamentos em empresas, escolas e hospitais para ensinar as pessoas a serem mais bem humoradas, mais agradáveis, mais otimistas. Fácil não é, eles admitem. Mas é possível. São escolhas diárias que fazemos, pequenas e grandes escolhas: como vou tratar este colega? Vou respeitar ou não meus funcionários? Vou passar duas horas reclamando da vida para os meus filhos? Esta minha cara fechada é algo que alguém merece ter por perto? Até quando vou impor meu azedume a quem me cerca? Quando foi a última vez que tentei ser uma pessoa melhor, mais generosa e delicada, menos amarga ou agressiva? São perguntas que podemos, ou devemos, nos fazer cotidianamente –pequenos exercícios em prol da leveza e da tão falada qualidade de vida.

Mestres na arte de cortar carboidratos e contar calorias, talvez seja hora de colocarmos a alma na balança, aparar as arestas e reduzir as gorduras do espírito. “Travel light”, costumam recomendar os guias de viagem: “viaje leve”, ou seja, quanto menos bagagem, maior a chance de desfrutarmos o que aparece no caminho. Quando a alma pesa pouco, viaja-se, ou vive-se, melhor. E, claro, quem convive conosco agradece.