Luiz Fernando Verissimo
Ainda pior
que a convicção do não e a incerteza do talvez é a desilusão de um quase. É o
quase que me incomoda, que me entristece, que me mata trazendo tudo que poderia
ter sido e não foi. Quem quase ganhou ainda joga, quem quase passou ainda
estuda, quem quase morreu está vivo, quem quase amou não amou. Basta pensar nas
oportunidades que escaparam pelos dedos, nas chances que se perdem por medo, nas
idéias que nunca sairão do papel por essa maldita mania de viver no outono.
Pergunto-me,
às vezes, o que nos leva a escolher uma vida morna; ou melhor, não me pergunto,
contesto.A resposta eu sei de cor, está estampada na distância e frieza dos
sorrisos, na frouxidão dos abraços, na indiferença dos “Bom dia”, quase que
sussurrados.
Sobra
covardia e falta coragem até pra ser feliz.
A paixão
queima, o amor enlouquece, o desejo trai.Talvez esses fossem bons motivos para
decidir entre a alegria e a dor, sentir
o nada, mas não são. Se a virtude estivesse mesmo no meio termo, o mar não
teria ondas, os dias seriam nublados e o arco-íris, em tons de cinza. O nada
não ilumina, não inspira, não aflige nem acalma, apenas amplia o vazio que cada
um traz dentro de si.
Não é que fé
mova montanhas, nem que todas as estrelas estejam ao alcance, para as coisas
que não podem ser mudadas resta-nos somente paciência, porém preferir a derrota
prévia à dúvida da vitória é desperdiçar a oportunidade de merecer. Pros erros
há perdão; pros fracassos, chance; pros amores impossíveis, tempo. De nada
adianta cercar um coração
vazio ou
economizar alma. Um romance cujo fim é instantâneo ou indolor não é romance.
Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o medo impeça de
tentar. Desconfie do destino e acredite em você. Gaste mais horas realizando
que sonhando, fazendo que planejando, vivendo que esperando porque, embora quem
quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu.
WESTPHAL,
Sarah. Disponível em: http://www.pensador.inf/p/
quase_cronicas_de_luiz_fernando_verissimo/3/.
Acesso em: 3
jan 2010