Fernanda Mello
Para quem vive com a cabeça nas estrelas, não há desafio maior que
manter os pés no chão. É a eterna luta em saber conciliar nossos
opostos. Equilibrar o concreto e o abstrato. Saber o que é sonho
possível. E o que é puro devaneio. Difícil? Devo dizer que bastante.
Nessas horas, ganha mais quem é sensato. Quem pondera. Quem pesa os prós
e contras. E – devo acrescentar – quem acredita em si mesmo.
Mas realidade sem sonho nem sempre tem graça. Não tem vida. Não tem
cor. Concordam? O inverso também vale. Sonhos são melhores quando se tem
uma certa realidade embutida. Aquela coisa de saber que é difícil, mas
não impossível. É aí que mora o bom senso (primo-irmão do equilíbrio e
autor de tantos feitos por aí).
Com sonhos a tiracolo e o bom senso nas mãos, mágicas – vira-e-mexe –
acontecem. Palavras viram livros, rabiscos viram canções. Simples
idéias se transformam em tudo o que a gente sempre quis. (Quer coisa
melhor?). São nesses momentos que a vida se mostra cheia de luz. De
graça. E de significado. Tudo passa a valer a pena, apesar de todos os
tropeços do caminho…
Bom, por que entrei nesse assunto? Porque sou umas das pessoas mais
sonhadoras que eu conheço. Talvez não tenha virado escritora por acaso,
vai saber… Sonhos são molas que nos impulsionam. São minha
inspiração
e força. São a minha fé. Ao meu ver, quem não sonha (nem que seja um
pouco, quando ninguém está olhando), nunca se sente vivo de verdade.
Mas como tudo tem dois lados, é bom ficar de olhos abertos. Ou
melhor: com os pés fincados no chão. Viver só de sonhos não basta. Quem
se alimenta apenas de ilusão, perde a realidade da vida e se esconde em
um mundo paralelo. Complicado, não? Também acho. Haja discernimento para
viajar, se aventurar nas estrelas e saber a hora certa de voltar!
Por isso (como boa canceriana que sou), continuo com a cabeça na lua.
O pensamento nas nuvens. E, por via das dúvidas, me belisco sempre
para aterrissar. Afinal, quem disse que não podemos trazer pra terra o
que criamos em nosso céu?