Verdade


Se apenas houvesse uma única verdade, não poderiam pintar-se cem telas sobre o mesmo tema.

Picasso

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Libertando-se dos Contos de Fada

Por Regina Navarro
 
Pais e professores ficariam horrorizados, em sua grande maioria, se percebessem que tipo de idéias estão passando para as crianças, subliminarmente, através dos contos de fadas. E por que continuam tão populares, se príncipe montado a cavalo é coisa do passado?
 
Desde a Antigüidade as mulheres detinham um saber próprio, transmitido de geração em geração: faziam partos, cultivavam ervas medicinais, curavam doentes. Na Idade Média seus conhecimentos se aprofundaram e elas se tornaram uma ameaça. Não só ao poder médico que surgia, como também do ponto de vista político, por participar das revoltas camponesas. Com a "caça às bruxas", na Inquisição, 85% dos acusados de feitiçaria eram mulheres. Muitas delas foram executadas, na maior parte das vezes queimadas vivas.
 
(...)
 
A partir daí podemos entender melhor como as mulheres e as personagens femininas das histórias infantis foram se tornando passivas, submissas, dóceis e assexuadas. Em Cinderela, Branca de Neve e A Bela Adormecida, existem algumas mulheres que até fazem mágicas, mas a mensagem central não é a do poder feminino, e sim da impotência da mulher. O homem, ao contrário, é poderoso. Não só dirige todo o reino, como também tem o poder mágico de despertar a heroína do sono profundo com um simples beijo. Além da incompetência de lutar por si própria, comum às principais heroínas, Cinderela é enaltecida por ser explorada dia e noite, trabalhando sem reclamar e sem se rebelar contra as injustiças. Padece e chora em silêncio. Seu comportamento sofrido, parte do treinamento para se tornar a esposa submissa ideal, é recompensado. Seu pé cabe direitinho no sapato e ela se casa com o príncipe.
 
No entanto, o mais grave nos contos de fadas é a idéia de que as mulheres só podem ser salvas da miséria ou melhorar de vida por meio da relação com um homem. As meninas vão aprendendo, então, a ter fantasias de salvamento, em vez de desenvolver suas próprias capacidades e talentos. Riane Eisler, no seu livro O prazer sagrado, afirma que essas histórias incutem nas mentes das meninas um roteiro feminino no qual lhes ensinam a ver seus corpos como bens de comércio para segurança, felicidade - e, se conseguirem pegar não um sujeito comum, mas um príncipe -, status e riqueza. Ela diz que em última análise a mensagem dos inocentes contos de fadas, como Cinderela, é que não somente as prostitutas, mas todas as mulheres devem negociar seu corpo com homens de muitos recursos.
 
Em vez de desenvolver suas próprias potencialidades e buscar relações onde haja uma troca afetivo-sexual, em nível de igualdade com o parceiro, muitas mulheres se limitam a continuar fazendo tudo para encontrar o príncipe encantado

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