Verdade


Se apenas houvesse uma única verdade, não poderiam pintar-se cem telas sobre o mesmo tema.

Picasso

domingo, 12 de maio de 2013

Mãe "Desnecessária"

Marcia Neder
 
A boa mãe é aquela que vai se tornando "desnecessária" com o passar do tempo.
Várias vezes ouvi de um amigo psicanalista esta frase e ela sempre me soou estranha.

Até agora.

Chegou a hora de reprimir de vez o impulso natural materno de querer colocar a
cria embaixo da asa, protegida de todos os erros, tristezas e perigos.

Uma batalha interna hercúlea, confesso. Quando começo a esmorecer na luta para
controlar a supermãe que todas temos dentro de nós, lembro-me da frase; hoje,
absolutamente clara.

Se eu fiz o meu trabalho direito, tenho que me tornar "desnecessária". Antes que alguma mãe apressada venha me acusar de desamor, preciso explicar o que significa isto.

Ser "desnecessária" é não deixar que o amor incondicional de mãe, que sempre
existirá, provoque vício e dependência nos filhos, como uma droga, a ponto deles
não conseguirem ser autônomos, confiantes e independentes, prontos para traçar
seu rumo, fazer suas escolhas, superar suas frustrações e cometer os próprios erros
também.

A cada fase da vida, vamos cortando e refazendo o cordão umbilical. A cada nova
fase, uma nova perda e um novo ganho, para os dois lados, mãe e filho. Porque o
amor é um processo de libertação permanente e esse vínculo não pára de se
transformar ao longo da vida. Até o dia em que os filhos tornam-se adultos,
constituem a própria família e recomeçam o ciclo.

O que eles precisam é ter a certeza de que estamos lá, firmes, na concordância e na
divergência, no sucesso ou no fracasso, com peito aberto para o aconchego, o
abraço apertado, o conforto nas horas difíceis.

Pais e mães solidários criam filhos para serem livres. Esse é nosso maior desafio e
principal missão. Ao aprendermos a ser "desnecessários", nos transformamos em
portos seguros para quando eles decidirem atracar.

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